sábado, 17 de setembro de 2011

Estigmas das Chagas de Cristo - Por Padre Robson de Oliveira


Estigmas das Chagas de Cristo 






Estigmas é um fenômeno místico extraordinário do aparecimento de chagas nas mãos, pés e lado (ou em algumas destas partes do corpo) em pessoas de intensa vida interior e devotas da Paixão de Cristo. O caso mais célebre é o de S. Francisco de Assis (+1226), que recebeu os estigmas dois anos antes de morrer, em momento de êxtase, no Monte Alverne. Conhecem-se cerca de 250 casos aparentemente autênticos, um quarto dos quais de fiéis elevados às honras dos altares, o último dos quais o do franciscano capuchinho Padre Pio de Pietralcina (canonizado em 2002). A canonização duma pessoa estigmatizada não garante o caráter sobrenatural dos estigmas, tanto mais que se admitem casos de natureza patológica. Na maioria dos casos os estigmas estão cicatrizados, embora por vezes sangrem em determinados dias (sextas-feiras, Semana Santa, etc). A Igreja nunca emitiu nenhuma declaração infalível sobre o recebimento deles por alguém.
O Evangelho mostra que, no mistério da ressurreição de Jesus, as chagas não desapareceram. Os estigmas são um sinal do que Cristo sofreu durante a paixão; portanto, há dados teológicos que precisam de muito mais estudo do que já foi feito até hoje. No Evangelho de João, quando Jesus entra no Cenáculo atravessando portas fechadas e saudando os discípulos, ele mostra os estigmas para se identificar. Ele disse a São Tomé: "Põe teu dedo no meu lado". A consternação dos apóstolos também é um fato revelador deste mistério. Este fenômeno mostra a eficácia da salvação de Cristo na cruz, e permanece de modo especial no sinal dos estigmas, tornando-se um fato distintivo da eficácia redentora e salvadora da fé.
Até hoje, as pesquisas a cerca dos estigmas tem enfatizado o caráter de configuração e imitação de Jesus, que se origina da intensa relação pessoal que essas pessoas tiveram com Ele. Entretanto, tem sido feita uma análise muito pequena do papel que estes santos e bem-aventurados tiveram na Igreja. Tem havido insuficiente reflexão sobre a missão particular relacionada com os estigmas.
São Francisco de Assis recebeu os estigmas quando todos os seus planos santos - fundação da ordem, aprovação da regra primitiva, viagem à Palestina - falharam. Ele estava só e abandonado. Foi consolado por ser identificado com o Crucificado, e ainda, simultaneamente, o sofrimento dos estigmas se tornou um bem para a ordem e uma mensagem para toda a Igreja. O sucessor de São Francisco, Frei Elias, compreendeu o significado dos estigmas, e enfatizou isto em sua carta a todos os fiéis.
Esta mesma mensagem e missão dos estigmas pode ser vista em Santa Margarida Maria de Pazzi e Santa Catarina de Sena. No século que terminou, esta missão foi claramente vista em pessoas como Santa Gemma Galgani [falecida em 1913], São Padre Pio de Pietrelcina [1887-1968], e Marta Robin mística francesa, falecida em 1981, cujos escritos estão sendo estudados antes do início de seu processo de beatificação.
Marta Robin se tornou conhecida depois que o famoso escritor Jean Guitton escreveu o livro "A Jornada Imóvel". Marta Robin ficou acamada por 40 anos. Assim como Gemma Galgani e São Padre Pio, ela inspirou muitos grupos de espiritualidade e oração ao redor do mundo.
Estigmas é uma experiência de alegria e dor. O Senhor é sempre Quem toma a iniciativa. Os recipientes dos estigmas consideram isso uma imensa graça, da qual se sentem indignos. De fato, eles pedem ao Senhor que os tire, porque ficam envergonhados. Esta atitude era evidente em São Padre Pio. O bem-aventurado de Pietrelcina mostra claramente o que é a missão daqueles que carregam os estigmas. Padre Pio fundou grupos de oração e a Casa para Alívio dos Sofredores, um grande hospital que faz um trabalho específico para amenizar os sofrimentos físicos. Além disso, a capacidade de intercessão de pessoas que têm os estigmas é maior, unido a outros em oração, na renovação, salvação e proteção do mundo.
É um serviço de que a Igreja precisa em um momento particular de sua história. É como um sinal profético, um chamado, um fato surpreendente capaz de relembrar aos homens sobre o que é essencial, por exemplo, identificar-se com Cristo, e a salvação de Cristo que nos resgatou por suas chagas.
De certa forma, todos nós temos os estigmas, porque no batismo somos submersos na vida de Cristo, que nos permite participar no mistério pascal de sua morte e ressurreição. Em um pequeno nível, cada um de nós tem os estigmas. Se nós os carregamos com o espírito de fé, esperança, coragem e fortaleza, estas chagas, que podem ser purulentas e nunca curar-se, podem ajudar a curar a outros.
Em uma palavra, os estigmas representam a aceitação consciente da cruz, vivida espiritualmente.



 Autor: Padre Robson de Oliveira

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Padre Robson de Oliveira - A sabedoria e sensibilidade do Padre Robson de Oliveira/Trindade- Góias



ATÉ QUANDO AGRESSIVOS NAS PALAVRAS?
Nós últimos dias tenho pensado muito sobre a essência de nossas palavras e o que nos motiva a proferi-las. Muitas delas não passam pelo critério do amor, pois surgem junto com sentimentos momentâneos, como: a ira, o aborrecimento e o ódio contra o outro. Às vezes, as pessoas se deixam dominar por emoções repentinas, concedendo a elas o poder de decidir as suas atitudes. Quando se age por impulso é possível magoar aqueles que mais amamos e ferir as relações mais duradouras. Algo que, se houvesse paciência, não aconteceria. Ao agir a partir da raiva, o indivíduo assume o caminho de sua autodestruição. 
Nossas palavras têm o poder de destruir e edificar a família, iluminar e entristecer os amigos, libertar e aprisionar os que convivem conosco; até mesmo os colegas de trabalho. Por meio das palavras, agradecemos e, ao mesmo tempo, denegrimos a vida do outro. É difícil entender tamanha contradição: bondade e maldade em uma única forma de ser, agir e, principalmente, falar.
“A boca fala daquilo que o está cheio o coração!” (Lc 6,45). Por detrás do que falamos está um amplo contexto de situações e pensamentos. Não sou poucos os que deixam a panela de pressão estourar e, por isso, falam mal, humilham e xingam o outro. Irados, acabam por proferir as palavras mais insensatas para o momento. Quando a raiva passa e a cabeça esfria, ficam o vazio e o arrependimento de ter dito o que não era necessário. E mesmo que fosse indispensável tocar no assunto, a sabedoria já nos convida a tratar do conflito em momentos viáveis e serenos. Para tudo na vida há uma ocasião específica e propícia.
Só o fato de pedir ‘desculpa’, não modifica a ferida daquele coração que sofreu agressões verbais. Faz bem pensar que o melhor pedido de ‘desculpa’ é não repetir o mesmo erro de sempre. Na verdade, ‘desculpa’ não pode ser confundida com justificativa para erros que se repetem. Pelo contrário, ela é o reconhecimento mais sincero de que queremos mudar e não cederemos às novas investidas do ódio. Não estando preparado para mudar o comportamento, então é melhor, nem acelerar o pedido de desculpa para que a palavra não caia em descrédito. O mais bonito, nesse itinerário, é quando se substitui a ‘desculpa’ pelo ‘perdão’.
As palavras, filhas do nervosismo, vão e voltam. Na hora em que menos se espera lá estão elas atormentando a consciência e o coração. É infantil quem deixa o ódio usar sua boca e tomar posse de suas atitudes. Quem fica enfurecido se transforma em tudo aquilo que não gostaria de ser. Se fosse possível gravar o momento, a pessoa ficaria envergonhada de vê-la agindo com tamanha brutalidade. 
A ‘Palavra’ de Deus já nos orienta: “Aquele que não comete falta no falar, é homem perfeito, capaz de por freio ao corpo todo. A língua é um fogo, o mundo da maldade. A língua, colocada entre os nossos membros, contamina o corpo inteiro [...]. Quaisquer espécies de animais ou de aves, de répteis ou de seres marinhos são e foram domadas pela raça humana; mas nenhum homem consegue domar a língua.
Ela não tem freio e está cheia de veneno mortal. Com ela bendizemos o Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. Da mesma boca sai bênção e maldição. Meus irmãos, isso não pode acontecer!” (Tg 3,1.6-10b). Voltando ao texto bíblico, verifica-se a presença do verbo ‘domar’. Para bom entendedor vale o lembrete: só se doma animal selvagem. Portanto, não podemos permitir que a língua nos torne violentos nem agressivos, como se fôssemos trogloditas.
Não convém que nos isentemos das consequências de nossas palavras. Se assim agirmos, nos tornaremos irresponsáveis com o outro e inconsequentes com o que falamos. Aquele que humilha pode se esquecer do ocorrido, mas há a possibilidade de que o insultado recorde-se das ofensas recebidas por toda uma vida; ainda mais quando não há a capacidade do perdão incondicional. No atendimento pastoral tenho visto muitas pessoas que acumulam mágoas durante vinte, trinta, quarenta anos. Alguns guardam ressentimentos até de entes falecidos, que lhes denegriram pela fofoca ou pela maledicência. É como se essas vítimas das más palavras ficassem presas a um passado distante e impedidas de cresceram na fé.
Com oração, diálogo e dedicação é possível humanizar as nossas palavras, para que mesmo dizendo a verdade, não sejamos capazes de ofender a ninguém. Santifiquemos nosso coração e apaziguemos nossos ânimos. Assim, tudo o que sair de nossa boca será para engradecer as pessoas, nunca para destruí-las. Pautados pela caridade, amemos! Alicerçados na fé, nos esforcemos! Norteados pela esperança, caminhemos com a consciência tranquila de que nossa única arma é a compreensão pelo limite do outro! Que nossas palavras sejam, sucessivamente, santificadas na Palavra do Pai. Que nunca venham a ser lançadas ao vento, nem atiradas com agressividade! Quando machucamos o outro, ferimos a face de Deus!
Pe. Robson de Oliveira, C.Ss.R.
Missionário Redentorista, Reitor da Basílica de Trindade e Mestre em Teologia Moral pela Universidade do Vaticano.
Twitter: @padrerobson
www.paieterno.com.br
FONTE:BLOG DO PAI ETERNO SITE WWW.PAIETERNO.COM